Prefeitura de cidade natal de Moraes Moreira na BA cancela homenagem ao músico no São João; entenda polêmica

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Prefeito Phelippe Brito (PSD) diz que tentou entrar em contato com familiares do músico. Família nega e diz que partiu dela tentativa de contato, e que cancelamento foi decisão unilateral do município.

A prefeitura de Ituaçu, cidade do sudoeste da Bahia, cancelou uma homenagem que faria ao cantor e compositor Moraes Moreira, no São João deste ano. O baiano é considerado filho ilustre do município onde nasceu.

Em publicação feita nas redes sociais da prefeitura, o prefeito do município, Phelippe Brito (PSD), afirmou que tentou entrar em contato com os familiares do músico, que teriam dito que a homenagem era uma forma da gestão municipal tirar proveito econômico com a festa.

“Buscamos a todo o tempo informar os herdeiros, que pudessem ter visto para ver essa homenagem, mas fomos notificados através de uma assessoria que disse que o município de Ituaçu estaria tirando proveito econômico. Em momento algum o município tem tirado proveito econômico dessa situação. É uma questão cultural do município a ornamentação dessa praça”, declarou em vídeo o gestor.

Segundo Phelippe Brito, a gestão passou meses planejando a festa e terá que fazer mudanças de última hora. Ele reforçou que o São João de Ituaçu não foi cancelado, e acontecerá entre os dias 22 a 25 de junho.

O que diz a família

Em nota, a família de Moraes Moreira informou que “os fatos que estão sendo distorcidos e entendidos de forma errônea, seja por desconhecimento, seja por má fé”. O comunicado foi divulgado nas redes sociais do músico Davi Moraes, filho de Moraes.

“Nossa intenção é, principalmente, esclarecer os fãs do nosso pai, que se viram frustrados pelo cancelamento de uma homenagem a ele que estaria sendo organizada pela prefeitura de sua cidade natal, nossa querida Ituaçu”, afirmou.

De acordo com os familiares do artista, há algumas semanas, foram surpreendidos por publicações, veiculadas em redes sociais oficiais da Prefeitura de Ituaçu, que divulgavam a homenagem, com os slogans: “Sou turista de forró na terra de Moraes Moreira” e “Arraiá do Brejo Grande – um forró em cada esquina”, este último utilizando um verso da música de Moraes (em parceria com Antônio Risério).

Conforme os familiares, eles não tinham sido informados sobre a homenagem anteriormente e nem autorizaram o uso das imagens, versos de música e o nome de Moraes Moreira na promoção da maior festa da cidade.

“Aguardamos por algum tempo que algum contato oficial chegasse a nós, que somos, por atribuição legal, os herdeiros e responsáveis pela obra do nosso pai. Vínhamos de uma experiência muito bem sucedida com o governo do Estado da Bahia, que fez uma linda e merecida homenagem a Moraes neste último carnaval”, contou em nota.

A família afirmou ainda que a prefeitura poderia ter solicitado a liberação gratuita do uso da imagem, nome e obra, o que seria avaliado e respondido da forma que eles achavam mais “apropriada”.

No entanto, foram eles que procuraram a gestão municipal formalmente com o “intuito de resolver e retificar a situação ilegal que se apresentava”. A família afirmou que não foi respondida pela prefeitura, que teria tomado a decisão de cancelar a homenagem de forma unilateral.

Moraes Moreira

Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, em 8 de julho de 1947. Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos na cidade. Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, na região sudoeste da Bahia, em 1967.

Aos 19, ele foi para Salvador, onde começou a estudar no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia. Lá, ele conheceu seus futuros companheiros dos Novos Baianos, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor, além de Tom Zé.

Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.

O grupo já tinha também a participação de Baby do Brasil (Baby Consuelo, na época) na voz e o guitarrista Pepeu Gomes quando foi participar do popular Festival da Música Popular Brasileira na TV em 1969, com a música “De Vera”, de Moreira e Galvão.

No ano seguinte, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. Mas a grande obra deles viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Em 1972, eles lançaram o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.

Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira, o álbum de 1972 é reconhecido como um dos melhores – senão o melhor – trabalho do pop brasileiro.

Foi um passo adiante do tropicalismo de Caetano, Gil e Tom Zé – no abraço ao rock e à psicodelia hippie, na fusão de ritmos brasileiros, na recusa a seguir padrões no período mais duro da ditadura militar.

O grupo foi morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira. Lançaram ainda três discos, cujo sucesso não tão grande começou a gerar desentendimentos. Ele ficou no grupo de 1969 até 1975, quando saiu em carreira solo.

Moraes Moreira morreu em abril de 2020 após um infarto agudo do miocárdio, no Rio de Janeiro.