Artista de Feira de Santana é destaque na ArtRio 2023

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Igor Rodrigues foi apontado pela imprensa nacional como um dos novos talentos da arte brasileira. Compraram suas obras o cantor Felip Ret e Dennis DJ.

 

Entre a tinta e a tela, o artista Igor Rodrigues tem fundamentado as experiências do corpo negro no mundo através de suas produções. Natural de Feira de Santana, o pintor de 28 anos, tem reescrito através de suas vivências, novas formas de se enxergar a negritude. Suas obras vem se destacado entre as galerias do país, trazendo protagonismo para os rostos negros.

Foto: Igor Rodrigues

Ao Acorda Cidade, Igor contou que sempre gostou muito de artes, desde a escola. Sua maior influência veio de casa, ao ver sua avó produzindo crochê, artesanatos e pintando. Formado em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana, ele explica que essa é uma das bases para as criações de seus trabalhos.

“Eu trabalho com a temática da negritude é uma forma de fazer com que outras pessoas se vejam representadas ali. O meu trabalho funciona como uma terapia, minhas pesquisas para criar partem da psicologia, da psicanálise principalmente de autores negros e funciona para mim também como algo terapêutico, uma forma para elaborar as minhas angústias, questões e pensamentos. O meu trabalho vai muito nesse sentido, tanto de uma auto elaboração como também uma forma de fazer com que outras pessoas consigam pensar sobre suas próprias vidas, principalmente pessoas negras”, pontuou.

Foto: Maurício Borges

Este mês, o artista estreou em uma das maiores feiras de arte do Brasil, a ArtRio, que aconteceu entre os dias 13 e 17 de setembro, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, reunindo renomados artistas brasileiros e estrangeiros. Em entrevista, ele revelou que não esperava uma repercussão tão excelente.

“As minhas expectativas antes do evento eram muitas, porque eu sou de Feira de Santana, a galeria de Salvador, então a gente está de fora desse eixo central onde arte no Brasil acontece, que é Rio e São Paulo e a gente não sabia como seria a repercussão, porque é uma feira de arte muito grande, uma das maiores feiras de arte da América Latina, são 70 galerias expondo, então você tem 70 exposições acontecendo ao mesmo tempo e é muita gente, muita coisa boa e eu tinha medo de não conseguir me destacar”, avaliou.

Foto: Igor Rodrigues

Igor também já havia participado da SP Arte São Paulo no ano anterior e explicou que se destacou ainda mais na ArtRio.

“A gente conseguiu superar o processo que a gente teve na SP Arte que já tinha sido muito grande, mas na ArtRio foi algo muito maior, então eu tive muita expectativa com relação a isso, tinha medo de frustrar, mas no fim das contas deu tudo certo, eu me preparei, tentei me preparar psicologicamente porque ser artista no Brasil não é coisa fácil, principalmente sendo artista negro”, declarou em entrevista ao Acorda Cidade.

Com a temática da estética negra através dos cabelos, o artista levou para a ArtRio 12 produções inéditas e mais 6 obras para compor sua exposição. Com um olhar sensível e generoso para ancestralidade negra, suas telas revelaram beleza, autoestima e potencialidade da identidade preta.

Foto: Nicolau Almeida

“Foi um processo difícil, porque meu trabalho é figurativo e eu prezo pelo realismo, então eu pinto, desenho, tentando  fazer os traços mais fiéis possíveis a uma fotografia por exemplo. Foi um processo de muita dedicação, muito trabalho, muito esforço, mas deu tudo certo”, disse.

No catálogo da obra ele traz que no Brasil, a pele e o cabelo são critérios para apontar quem é branco e quem é negro. Por isso, repensar os significados que perpassam o cabelo significa potencializar um dado identitário e, consequentemente, aflorar o sentimento de empoderamento.

Foto: Nicolau Almeida

Inspirado também pela arte de pessoas negras, pela música, por cantores que admira e pela fotografia de moda, ele falou que estar na ArtRio foi gratificante, pois percebeu pessoas que ele admirava, prestigiando o seu trabalho.

“Foi engraçado e interessante ver essas pessoas famosas, porque no final das contas são pessoas comuns, normais, como qualquer outra pessoa, então elas andam e frequentam a feira com a maior naturalidade possível. É muito bom ver pessoas que eu admiro muito, eu conheci o Emicida, a Liniker que eu sou muito fã, então é muito bom você saber que a pessoa admira o seu trabalho assim como você admira o dela. Foi uma troca de experiências com outros artistas”, contou.

Foto: Reprodução/Instagram

A mostra solo do feirense encantou públicos diversos que passaram pelo stand. Levaram suas obras para casa, o cantor Felip Ret e Dennis DJ.

Segundo o artista, a tela ‘Chamego’, adquirida pelo cantor, foi a maior pintura da mostra. Ela representa o cuidado e a conexão entre pessoas negras.

Foto: Nicolau Almeida

Seu significado diz respeito ao sentimento de atração ancestral entre pessoas negras que ultrapassa o desejo; é o bem-querer que preenche a existência e conecta as pessoas de corpo e alma; o caminho para se resgatar vínculos que rompam com lugares que remetem à violência, mas que possuam a força transformadora dos afetos em algo positivo, pois, como define bellhooks, o amor cura” escreveu na apresentação da obra.

Para o futuro, Igor já está planejando uma exposição em sua galeria Acervo Galeria de Arte, em Salvador, além disso é provável que no ano que vem ele leve suas exposições para fora do país.