Quando o prazer em consumir bebida alcoólica pode se transformar uma doença?

Coordenadora do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas (CATA) explica como lazer vira problema

Caracterizada como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o alcoolismo prejudica os órgãos, especialmente o fígado, que é responsável por destruir as substâncias tóxicas ingeridas ou produzidas pelo corpo durante a digestão. A longo prazo, o consumo excessivo de álcool pode causar gastrite, hepatite, úlceras, cirrose, entre outras doenças. O excesso é perigoso, todo mundo sabe. Mas, afinal, quando o desejo de do consumo vira uma doença?

O problema aconteceu justamente quando a pessoa perde o domínio sobre o consumo. Quem explica isso é assistente social Andréa Lima, coordenadora do Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas (CATA) das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). “O problema é quando a pessoa não bebe mais por um lazer, para se distrair, mas bebe a partir de uma relação de dependência da substância”, afirma.

Identificar o desenvolvimento da doença não é tão fácil. No entanto, quando a pessoa percebe que o álcool está prejudicando a própria vida dela já é um passo para busca do tratamento. ”Por exemplo, queixas no trabalho por causa de falta, ou não consegue se relacionar direito em uma relação a dois, brigas, mal-estar. Esses são os sinais que podem fazer a pessoa perceber que é um problema”, complementa Andréa. Geralmente as pessoas ao redor de um alcoolista identificam o problema com a maior facilidade.

Ao identificar o problema, o primeiro passo do alcoolista deve ser a busca por ajuda, seja um grupo de mútuo ajuda ou tratamentos médicos. “Depende muito do nível de dependência química porque às vezes esse abuso da substância não se caracterizou como alcoolismo, mas quem está de fora percebe o nível de sofrimento”, continua.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado em novembro do ano passado, mostrou que o consumo de álcool causa, em média, 12 mortes por hora do país. O levantamento foi chamado de Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, feito pelo pesquisador Eduardo Nilson.

Foram levadas em consideração as estimativas de mortes atribuídas ao álcool da Organização Mundial da Saúde (OMS). No total, foram contabilizadas 104,8 mil mortes em 2019 no Brasil. Homens representaram 86% das mortes: quase a metade relacionam o consumo de álcool com doenças cardiovasculares, acidentes e violência. Enquanto as mulheres são 14% das mortes: em mais de 60% dos casos, o álcool provocou doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer.

Desafios

São muitos os desafios, especialmente porque as famílias se tornam dependentes emocionais. “Onde tem um alcoolista, pode ter ao redor um dependente emocional, alguém que alimenta esse sistema”, explica Andréa. Decidir o tratamento é apenas o começo para a manutenção da sobriedade. “É uma doença crônica. Assim como a diabetes, a pessoa vai precisar se cuidar para vida toda”, diz. O apoio da família e a busca por outros prazeres são fatores importantes neste processo.

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