Por volta das 8h, já estava difícil de transitar no Largo do Pelourinho
Desde a entrada da Baixa dos Sapateiros já era possível avistar os indícios de uma celebração em Salvador na manhã desta quarta-feira (4). Não foi por acaso que, nas calçadas, os manequins das lojas foram expostos com vestes vermelhas. Também não foi coincidência as rosas nas mãos de centenas de pessoas que rumaram em direção à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Toda aquela movimentação tinha motivo: homenagear Santa Bárbara, a protetora de tempestades e trovões.
Por volta das 8h, o Largo do Pelourinho já estava difícil de transitar. Enquanto alguns faziam questão de ir em direção à igreja, outros se apressavam para conseguir um lugar próximo ao palco montado em frente à Fundação Casa de Jorge Amado, onde a Missa Campal, presidida pelo cônego Lázaro Muniz, teve início às 8h10.
Antes da celebração religiosa, a técnica em enfermagem Maria Selma dos Santos, 57, manteve os olhos fechados enquanto entoava as músicas em homenagem à santa. Ela, que é devota também de Iansã – equivalente à entidade católica no candomblé –, contou que estava relembrando o início da história com Santa Bárbara. “Minha história começou quando eu estava em casa há alguns anos e comecei, inconscientemente, a chamar ‘Odoyá, Odoyá’. As portas do meu quarto começaram a balançar”, conta.
“Eu continuei a dizer ‘Odoyá, minha mãe’. Depois desse episódio, eu comecei a despertar para a fé e eu vi a importância dos orixás para a minha vida. Desde então, Santa Bárbara representa a força e a luz. Ela é poderosa. É como se ela desse subsídios, com a permissão de Deus, para suportar as adversidades da vida”, afirma Maria Selma.
Para o contador Gerson Amorim, 69 anos, Santa Bárbara é a mediadora que possibilitou a abertura de diversas oportunidades ao longo da vida dele. “Sou devoto dela há muitos anos e, ainda na juventude, pedi a ela que me ajudasse a conseguir um emprego. Graças a Deus e a ela eu consegui esse emprego e estou nele até hoje. Ela é luz e foi assim em tantas outras esferas da minha vida”, diz.
A fé de Gerson inspirou a filha Fernanda Amorim, de 19 anos. Ao lado do pai na Festa de Santa Bárbara, ela contou que marca presença em quase todos os anos porque acredita na força da representação da santa. “Além da religiosidade, ela representa a força da mulher, é forte, uma menina que não se prende a nada, é leve como o vento e livre como uma borboleta. Isso me toca muito por conta da nossa história e raízes”, relata.