Operação Fallen mira PMs ligados a grupo de Binho Galinha

Nova fase investiga lavagem de dinheiro, agiotagem e extorsão na Bahia; deputado Binho Galinha está no centro da investigação

A Polícia Federal deflagrou, nesta quarta-feira (28), a Operação Fallen. A força-tarefa é desdobramento da El Patrón, iniciada em 7 de dezembro de 2023, que tem como principal alvo o deputado estadual Binho Galinha (PRD). Nesta fase, são cumpridos quatro mandados de busca e apreensão contra policiais militares suspeitos de integrar a organização criminosa, em Feira de Santana.

A operação é realizada em ação conjunta com o Ministério Público da Bahia (Gaeco), a Força Correcional Integrada (Force/Coger/SSP/BA) e a Corregedoria da Polícia Militar.

Segundo a PF, os agentes investigados são acusados de envolvimento em lavagem de dinheiro oriundo do jogo do bicho, agiotagem, extorsão, receptação qualificada, entre outros crimes, dos quais Binho Galinha seria o mentor. O grupo atuaria em Feira de Santana e cidades próximas.

A corporação explicou que o nome “Fallen”, que em inglês significa “caído”, faz referência à participação de policiais no esquema criminoso, “indicando assim a degradação moral e a perda de valores éticos desses profissionais”.

Na primeira fase da El Patrón, foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva, 33 de busca e apreensão, além do bloqueio de mais de R$ 200 milhões em contas bancárias dos investigados. Também houve o sequestro de 26 imóveis urbanos e rurais e a suspensão de atividades de seis empresas.

Em fevereiro deste ano, Binho Galinha foi denunciado pelo MP-BA por, supostamente, chefiar o grupo criminoso.

Ainda de acordo com a PF, as investigações continuam para identificar outros envolvidos e possíveis crimes conexos. Caso sejam condenados, os investigados podem cumprir penas que somam mais de 26 anos de prisão.

Quem é Binho Galinha

No dia 7 de dezembro de 2023, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação El Patrón, com o objetivo de desarticular uma sofisticada organização criminosa liderada pelo deputado estadual Binho Galinha (Patriota), em Feira de Santana. Segundo as investigações, o grupo era especializado em práticas ilícitas como lavagem de dinheiro, jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada.

A operação revelou o envolvimento de três policiais militares, que atuavam como o braço armado do grupo, realizando cobranças mediante violência e grave ameaça. Relatórios da Receita Federal também apontaram inconsistências fiscais, movimentações financeiras incompatíveis e bens não declarados.

As investigações revelaram que a organização movimentou mais de R$ 100 milhões ao longo de uma década. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 200 milhões em bens, incluindo fazendas, imóveis urbanos, veículos e contas bancárias de empresas ligadas ao grupo. Além disso, seis delas tiveram suas atividades suspensas.

À época, em nota enviada à imprensa, Binho Galinha negou o cometimento de todos os crimes e afirmou colaborar com a Justiça no processo. Confira abaixo:

“O deputado estadual Binho Galinha (Patriota) se manifesta para afirmar que está à disposição da Justiça para esclarecer os fatos envolvendo seu nome e de familiares na operação denominada de “El Patron”, deflagrada pela Polícia Federal.

Binho Galinha ressalta, ainda, que tem acompanhado os desdobramentos das investigações com tranquilidade e colaborado com o Poder Judiciário.

Nesta terça-feira, durante mais uma fase da operação, o deputado Binho Galinha volta a afirmar que jamais praticou os crimes que estão sendo lhe atribuídos e que vai provar sua inocência na Justiça”.

Esposa de Binho Galinha presa

– Em dezembro de 2023, a Justiça denunciou a esposa de Binho, Mayana Cerqueira da Silva, de 43 anos, e o filho deles, João Guilherme Cerqueira, 18.

– Em fevereiro deste ano, a polícia prendeu um dos assessores de Binho Galinha na Assembleia Legislativa (AL-BA), Bruno Borges França, de 43 anos.

– Em março, Mayana teve a prisão domiciliar decretada e, no mês seguinte, a prisão foi convertida para preventiva, durante deflagração da Operação Hybris, um desdobramento da Operação El Patrón, em Feira de Santana.

Na Operação Hybris, foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão – dentre eles, aparecem um tenente-coronel da Polícia Militar e quatro PMs, que dariam apoio armado ao grupo miliciano. A Justiça ainda bloqueou, aproximadamente, R$ 4 milhões das contas bancárias dos investigados.

Segundo a entidade, o objetivo da Hybris é desarticular “uma estruturada e sofisticada organização criminosa especializada na lavagem de capitais advindos de jogo do bicho, agiotagem, extorsão, receptação qualificada, entre outras infrações penais”, que atuaria em Feira de Santana e cidades vizinhas.

Em denúncia oferecida à Justiça, o Ministério Público apontou que foram achados mais de 120 contatos de policiais na agenda telefônica de Binho Galinha.

No dia 21 de agosto, outra pessoa foi presa pela PF, em Feira de Santana. O detido, que estava foragido desde a primeira fase da operação, deflagrada em 7 de dezembro do ano passado, é suspeito de atuar como operador financeiro do grupo. Ele é acusado de movimentar grandes quantias em sua conta bancária, com o objetivo de ocultar a origem ilícita dos valores e criar uma falsa desconexão das atividades criminosas.

Binho Galinha: presidente diz que deputados têm medo de julgar colega

Em 2024, o ex-presidente presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), deputado Adolfo Menezes (PSD), admitiu à imprensa que os deputados estaduais relatam a ele medo de avançar, no âmbito do Conselho de Ética, sobre o caso do deputado Binho Galinha.

Para Menezes, os membros do Legislativo baiano são “reféns” da situação. “A questão é o receio pela gravidade do problema. Medo”, destacou.

Atualmente, o caso está parado no Conselho de Ética da Casa. Para o chefe do Legistativo baiano, as leis promovidas pelo Congresso Nacional contribuem para isto. “No intuito de preservar a imunidade parlamentar, o Congresso bota tudo no mesmo bojo. Por que não muda?”, questionou.

Na visão do presidente, em casos de investigações de crimes mais graves, não deveria haver imunidade parlamentar, como é o caso de Binho Galinha – por conta disto, há mais dificuldades para prendê-lo.

“Se três juizes já ‘correram’ de julgar o caso, como é que a gente vai entrar num negócio desse, entrando no interior? Daqui a pouco ele está matando… E aí? Como é que vai ficar? Eles têm medo. Ponto. Resumo. Esperam a Justiça agir… e eu não tiro a razão deles”, ponderou Menezes, que em seguida questionou: “Quer ser herói num país como esse? Com ‘nego’ matando ser humano como se fosse barata?’, acrescentou.

Conselho de Ética da AL-BA não julga caso de Binho Galinha

Para conhecimento dos deputados da AL-BA sobre processo que envolve o nome do deputado Binho Galinha – disponibilizando material encaminhado pelo Ministério Público estadual -, foi instalado, em 17 de abril do ano passado, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, com a presença do presidente, Adolfo Menezes.

Na ocasião, os integrantes deliberaram a escolha do presidente e vice-presidente do colegiado, respectivamente os deputados Vitor Bonfim (PV) e Marcelino Galo (PT). Acompanharam os trabalhos o líder da bancada da maioria, deputado Rosemberg Pinto (PT), e o deputado Marcelinho Veiga (UB).

Também estiveram presentes os demais membros titulares do Conselho de Ética – deputados Alex da Piatã (PSD), Antonio Henrique Jr. (PP), Euclides Fernandes (PT), Samuel Junior (Republicanos), Sandro Régis (UB) e Tiago Correia (PSDB) – além dos suplentes Angelo Coronel Filho (PSD), Fabíola Mansur (PSB) e Fabrício Falcão (PC do B). Também compõem a comissão, como suplentes, Kátia Oliveira (UB), Marcinho Oliveira (UB), Penalva (PDT), Raimundinho da JR (PL) e Robinho (UB).

Com o início das atividades, a instância do Parlamento baiano pode, ao ser provocada, analisar qualquer queixa interna ou externa envolvendo seus pares em possível quebra de decoro. Os exames dos casos resultam em pareceres, que vão da não aceitação da denúncia até a cassação de mandatos, passando por advertências ou suspensões temporárias. Fora os casos de arquivamento, todas as demais decisões do Conselho de Ética passam obrigatoriamente pelo plenário, que toma a decisão final.

Compartilhe esta notícia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ir para o conteúdo