É ensurdecedor o silêncio do governador Jerônimo Rodrigues (PT) diante da enorme repercussão, inclusive nacional, que tomou o caso envolvendo a fuga do presídio de Eunápolis, que ocorreu no final do ano passado, mas teve os detalhes do processo divulgados nesta semana.
O fato é que o caso parece roteiro de filme, com romance, compra de voto e regalias das mais diversas para presidiários dentro do sistema, o que, na prática, demonstrou que o presídio de Eunápolis estava sob o controle do crime organizado. É de espantar que o governador não tenha dado uma declaração oficial condenando a situação ou tomando alguma atitude. Talvez isso explique um pouco porque o sistema prisional da Bahia, que enfrentou três fugas em poucos meses, esteja passando por uma crise profunda, assim como a segurança pública do estado.
O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado (Seap), José Castro, parece estar com os dias contados após os recentes casos envolvendo o sistema prisional da Bahia. Além de uma nova fuga ter sido registrada, no presídio de Teixeira de Freitas, a divulgação de detalhes do caso de Eunápolis aumentou ainda mais a pressão interna sobre o secretário, que é indicado pelo MDB. Fontes do governo dizem que Castro está sendo pressionado a renunciar ao posto. Interlocutores com trânsito no Palácio de Ondina confidenciaram que o próprio governador Jerônimo Rodrigues (PT), a aliados próximos, revelou o desejo de demitir Castro, mas avisou que não quer criar ruído com o MDB.
Interesses políticos
Que as greves dos professores de Salvador e Lauro de Freitas são políticas e atendem a interesses partidários todo mundo já sabe, mas a coluna apurou que a situação é ainda mais grave. Em Salvador, a disputa entre PSOL e PCdoB tem se agravado. Do lado psolista está Denise Souza, esposa do deputado estadual Hilton Coelho, enquanto a direção da APLB é historicamente ligada aos comunistas. Ambos os grupos disputam o protagonismo da greve, que é utilizada pelo movimento de Denise e Hilton para alavancar apoios para o deputado nas eleições do próximo ano. A situação tem irritado lideranças da APLB, que acusam, nos bastidores, o coletivo de Denise de usar a greve para tomar o espaço da entidade ligada aos comunistas. Enquanto isso, quem perde são os alunos da rede municipal e os pais, que são deixados de lado pelas lideranças grevistas, cujos interesses são cada dia mais claros.
Regalias cortadas
Retaliação estatal
O processo de eleições internas do PT para a escolha de presidentes dos seus diretórios locais não teve nada de democracia. Em Itabuna, por exemplo, há denúncias públicas de que a máquina do governo do Estado foi usada para prejudicar uma chapa que não contava com a simpatia da cúpula petista. Segundo relato do atual presidente, Jackson Moreira, petistas foram demitidos da Biofábrica em Itabuna porque não apoiavam a candidatura concorrente, de Nina Rosa. Há ainda a queixa de que o secretário de Desenvolvimento Rural, Osni Cardoso, teria condicionado a assinatura de um contrato do Governo com a Biofábrica ao apoio expresso à candidatura de Nina. Resultado: Nina alcançou 1.589 votos contra apenas 124 de Moreira, ligado ao ex-prefeito Geraldo Simões. Dizem, inclusive, que essa expressiva derrota imposta ao grupo de Simões foi uma retaliação pela “rebeldia” dele em não apoiar a reeleição de Augusto Castro (PSD), depois que o próprio rifou sua candidatura em 2024.
Saldo amargo
Por falar em eleições do PT, o saldo que ficou para a militância, especialmente a da velha guarda, é que o senador Jaques Wagner passou o rolo compressor contra quadros históricos do partido, sob o argumento de promover uma renovação geracional. O ponto é que tal renovação, para os cabeças brancas da legenda, aconteceu a fórceps com a ascensão de assessores do senador a postos de liderança sem a devida experiência para conduzir questões complexas e sendo posicionados como meros emissário do galego. Passada a votação, muitos ainda sentem o gosto amargo da condução nada democrática de Wagner. A candidatura do ex-presidente Jonas Paulo foi, para muitos, um protesto público contra a tirania disfarçada de democracia interna.
O governador Jerônimo Rodrigues chegou ao fim do primeiro semestre deste ano tendo gasto R$ 500 milhões para o patrocínio de festas e eventos. O volume expressivo de dinheiro com divertimento expõe o contraste no empenho do petista em, por exemplo, sanar o déficit do Planserv, principal plano de saúde dos servidores públicos da Bahia. Com os R$ 500 milhões, daria para cobrir o rombo que se formou no caixa do plano de 2023 para cá, gerado em razão do próprio Estado ter desistradado a contribuição que fazia para manter o plano em funcionamento. Ao governador, não falta dinheiro, mas, pelo visto, ele tem outras prioridades.
Governo Over
Aliados do governador Jerônimo não escondem o constrangimento sobre a manutenção, na estrutura do Estado, do ex-prefeito de Paratinga, Marcel José Carneiro de Carvalho – que depois de deixar a prefeitura foi acolhido pelo petista com um cargo generoso na Secretaria de Relações Institucionais (Serin). Ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que encontrou R$ 3,2 milhões em gavetas e armários. E o mais estranho é que o governador tem se mostrado resistente a dispensar o aliado político, mesmo com toda repercussão negativa, inclusive com alcance nacional.
Manobra
Novos amigos
O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior (MDB), precisará fazer novos amigos para 2026. É que nomes importantes do seu entorno desenham caminhos eleitorais bem diferentes dos seus. Geraldo já anunciou que não tem plano B e que quer concorrer à reeleição no mesmo posto, o que lhe fará dedicar todas as forças para manter o seu filho como deputado estadual na Assembleia. O problema é que aqueles que patrocinaram a jornada do emedebista júnior em 2022 não estão mais dispostos a repetir o feito e devem lançar suas próprias candidaturas ou buscar novos parceiros que de fato consigam agregar valor eleitoral. O afastamento da turma é reflexo do desastroso resultado eleitoral de 2024, que revelou ao mundo que o vice-governador não tem o tamanho que projetava no seu universo paralelo.
Serin em cólicas
Prefeitos que visitam a Secretaria de Relações Institucionais do Estado para fins de demandas administrativas estão sendo constrangidos a posarem para fotos como se o encontro, meramente institucional, fosse uma manifestação antecipada de apoio à reeleição do governador Jerônimo. As imagens são publicadas nas redes sociais e disparadas para a imprensa junto com releases sugerindo uma adesão eleitoral, que não existe. O modelo de abordagem tem recebido críticas de interlocutores do próprio governo, que consideram a antecipação prejudicial para o andamento da máquina, tendo em vista que muitos apoios não se confirmarão na hora da onça beber água. E mais, passa uma percepção de que o governo está em desespero pela evidente constatação do sentimento de mudança que ganha corpo na Bahia.














