O retorno dos que não foram: Após auge do naipe baiano, artistas retornam com pagodão “raiz”

O que vem depois do Naipe? Em setembro do ano passado, as redes sociais foram tomadas pelo sucesso do naipe baiano, uma dança que chegou até a participar das Olimpíadas com a ajuda da boxeadora Beatriz Ferreira. Entretanto, como dizem pelas ruas, “uma hora cansa” e parece que a fama do estilo não é mais bem-vinda.

Durante o primeiro ensaio de verão do Psirico em 2025, uma das bandas mais conhecidas do gênero, o vocalista Márcio Victor demostrou sua antipatia pelo estilo de pagode viralizado. “A Bahia não é só naipe, não. A Bahia é muito mais que naipe. A Bahia não tem porra de naipe importado. A gente gosta de pagodão”, declarou.

Mas o que é esse pagodão? Para aqueles que não viveram a época de ouro do estilo, o pagode tão conhecido no estado surgiu junto ao nascimento do grupo Gera Samba, que logo depois se tornou o “É o Tchan”, em 1994. De lá pra cá, muitas coisas mudaram. O estilo cresceu e sub-gêneros nasceram. A swingueira, a quebradeira, o pagofunk, pagode eletrônico… São algumas das vertentes seguidas pelo gênero.

Segundo Pierre Onassis, produtor musical e tecladista do álbum ‘Quem Me Ensinou, Pt.01’, o pagode é “algo que já vem ali do samba, do samba de roda”. Na área musical há cerca de 10 anos, o artista participou de músicas como “Perna Bamba”, de Leo Santana e Parangolé, “Rapunzel”, de Parangolé e “Minha História”, de Tony Salles. “O pagode para mim é isso, é aprendizado, é ensinamento. Tem essa questão da envolvência também, que não dá para você ficar parado”, explicou. Presente no show “Pagodão da Concha”, realizado por Saulo Fernandes e convidados, Onassis contou que “união” é o que falta para o pagode ter mais reconhecimento, como o Axé.

“Acho que falta um diálogo”, declarou. Como exemplo, o produtor relembrou a declaração de Márcio Victor: “a galera do Naipe, ao invés de se conscientizar do que ele falou, levou para o outro lado, para o lado da briga”. “Eu acho que se unisse essa galera toda de verdade, um para passar conhecimento para o outro e tal, acho que melhoraria assim 100%”, contou.

Em entrevista ao Bahia Notícias, o cantor Edcity, durante o show “Pagodão na Concha”, realizado no último dia 31 de janeiro, exaltou a importância da união. “A união faz a força, a gente se conecta com pessoas parecidas com a gente, que tem o mesmo objetivo, o mesmo propósito, que tem a mesma energia no coração”, declarou.

Voltando para a declaração de Márcio Victor, nota-se uma tendência a retornar ao período de ascensão do gênero, durante a primeira década dos anos 2000. Em setembro de 2024, Márcio lança sua aposta para o Carnaval de 2025, Molen-Molen, com participação de Compadre Washington, Pagod’art, Rubynho e Guig Ghetto, igualmente importantes para a “primeira geração” do pagodão.

Durante o AFROPUNK 2024, o cantor Léo Santana, outro grande nome do gênero, montou sua apresentação como uma homenagem ao seu período no grupo Parangolé. Saulo Fernandes, que tradicionalmente vem do gênero Axé, lançou em novembro, seu álbum “Quem me ensinou, Pt. 01”, com participações de artistas do pagode baiano e com a proposta de resgatar as raízes do gênero.

Sobre uma renovação do pagode baiano, Onassis acredita em uma possibilidade. “A minha geração tá sedenta disso, de ter um pagode bom para você ouvir ali em casa, num carro, numa família, numa festa e não tem”, declarou. Conforme o produtor, esse Carnaval é a chance de renovação tanto do Axé, quanto do Pagode.

Sobre a conexão entre os dois gêneros, Edcity comentou que o pagode faz parte dos 40 anos do Axé. “É uma veia também ali que sai desse propósito, da música, da Bahia”, explicou. Para o ex-vocalista do Fantasmão, o Pagode está enraizado na cultura baiana assim como o Axé.

“Agora vai depender da parte empresarial. Se eles vão realmente deixar acontecer, se eles vão criar um tipo de união que seja para comércio, para negócios, como é o sertanejo”, contou.

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