Morre Maria Moura, símbolo dos festejos juninos de Cruz das Almas

Faleceu nesta segunda-feira, Maria Moura, nascida em Cruz das Almas na década de 1930, uma das mais entusiastas e respeitadas defensoras da cultura junina da cidade.

Costureira de profissão e apaixonada pelas tradições do São João, Dona Maria deixa um legado de alegria, organização e amor pelas espadas, pelas quadrilhas e pelas confraternizações que marcam essa importante época do ano para o povo cruzalmense.

Durante a infância, costumava passar o São João na zona rural com parentes. Porém, a partir da juventude — entre os anos de 1950 e 1960 — decidiu vivenciar os festejos na cidade, especialmente na Rua da Estação, onde morava e onde o fogo das espadas iluminava noites memoráveis de confraternização familiar e amizade. Ali nasceu sua paixão pelas espadas, que ela jamais abandonou.

Com o passar do tempo, Dona Maria se envolveu diretamente na organização de quadrilhas juninas e fanfarras. Era exigente com o que fazia: contava que gostava de tudo muito bem feito e, por isso, muitas vezes colocava dinheiro do próprio bolso para comprar roupas e lanches para as crianças que participavam das quadrilhas. Seu perfeccionismo e dedicação tornaram-se referência nas festas do período.

A partir da década de 1980, criou um verdadeiro ritual para a Rua da Estação: dois mastros com bandeiras — uma branca e uma vermelha — passaram a sinalizar os momentos da festa. A bandeira branca, erguida ao alto, indicava que era hora de confraternizar em torno de uma mesa repleta de comidas típicas, preparadas e organizadas por ela mesma. Já a vermelha, quando içada, avisava que a queima das espadas estava autorizada. Um gesto simples, mas que mostrava sua capacidade de organização, respeito à tradição e cuidado com os que não queriam se expor aos riscos da festa.

“Na hora que eu botava a comida lá, que as espadas tocavam, eu fazia uma bandeira branca e uma vermelha… A vermelha ficava aqui, e a branca ficava lá embaixo… quando eu suspendia a bandeira vermelha aí o fogo comia”, recordou em depoimento, explicando com carinho e orgulho o funcionamento do seu ritual junino, que se tornou símbolo das décadas de 1980 e 1990 em Cruz das Almas.

Mesmo com a saúde debilitada nos últimos anos e residindo na Rua da Malva, Dona Maria Moura seguia cheia de vida e boas lembranças. Agora, parte deixando saudades e um exemplo de amor pela cultura popular que ajudou a manter viva por gerações.

O povo de Cruz das Almas se despede de uma de suas maiores entusiastas do São João. Que sua memória seja celebrada com o mesmo brilho das espadas que tanto amou.

POR JORNALZERO75

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