Fogo amigo de Jerônimo para privilegiar PT em disputas no interior baiano agrava tensões na base

Política
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Aliados do governo afirmam que Wagner e Rui sempre tiveram postura cautelosa para evitar atritos, mas que Jerônimo atua de maneira inversa

Políticos da base aliada apontam a interferência direta de Jerônimo Rodrigues na disputa eleitoral de cidades com mais de um candidato do bloco como o motivo para o aumento das tensões entre parlamentares da bancada governista e o Palácio de Ondina. Ao contrário dos dois antecessores, destacam, o atual governador trabalha em alta rotação pela vitória dos petistas em municípios médios e grandes cobiçados também por legendas alinhadas a Jerônimo. “Jaques Wagner e mais ainda Rui Costa tinham cuidado de evitar apoio explícito a determinado candidato do PT nos redutos onde havia outro aliado leal na pista. Justamente para não criar arestas que poderiam custar caro aos dois. Jerônimo é diferente. Ele parece capaz de queimar apoio para beneficiar o próprio partido”, compara um cardeal da base, ao citar a cautela adotada tanto pelo senador quanto pelo ministro da Casa Civil quando estavam à frente do governo.

Faroeste caboclo
O exemplo mais recente citado nas conversas com a coluna é relativo à sucessão em Barreiras, maior colégio eleitoral do oeste do estado. Na cidade administrada desde 2017 por Zito Barbosa (União Brasil), o governador entrou de sola em defesa do ex-deputado federal Tito Cordeiro, que trocou o Avante pelo PT no apagar das luzes de 2023. Na quinta-feira (13), vai desembarcar em Barreiras para participar do lançamento da pré-candidatura de Tito a prefeito, em gesto que irritou o deputado estadual Antônio Henrique Júnior (PP). Integrante da bancada governista na Assembleia Legislativa (Alba), o parlamentar queria o apoio de Jerônimo a seu filho, Danilo Henrique (PP), ou no mínimo que o petista adotasse distância regulamentar para não desequilibrar o jogo. Para piorar o descontentamento do pepista, Tito era até pouco tempo atrás membro leal da tropa de Jair Bolsonaro (PL) no Congresso e criticava abertamente o PT.

Reprodução espontânea
Em Itapetinga, cidade de quase 66 mil habitantes no sudoeste baiano, a briga é motivada por indícios de que o governador pretende apoiar o presidente da Câmara de Vereadores local, João de Deus, contra outra pré-candidata da base. Trata-se de Cida Moura (PSD), aliada do senador Otto Alencar, presidente estadual do partido, e do deputado federal Antonio Brito, também do PSD. Nesse caso, a rusga é atribuída a uma manobra do deputado petista Rosemberg Pinto, líder da bancada governista na Assembleia. A princípio, Rosemberg tentou cooptar Cida para o PT, mas não conseguiu. Convenceu, então, João de Deus a sair do MDB e ingressar na legenda. O problema é que Cida fez campanha para Jerônimo em 2022, enquanto o vereador emedebista apoiou o ex-prefeito da capital ACM Neto (União Brasil).

Vale a pena ver de novo
Fora Itapetinga, o PT decidiu concorrer contra o PSD em ao menos outras três cidades estratégicas para os planos do governador: Ilhéus, Bom Jesus da Lapa e Dias D’Ávila, localizadas no sul, oeste e Região Metropolitana de Salvador, respectivamente. “Parte do princípio de rebelião de deputados governistas na Assembleia se dá por demandas não atendidas e pela resistência de Jerônimo em recebê-lo. Mas a grande fonte de atritos virou o rolo-compressor petista em cidades controladas ou desejadas por demais siglas da base, sobretudo o PSD”, disse um parlamentar que integra a turma dos descontentes da bancada aliada. A rota de colisão entre os dois partidos foi detalhada pela Metropolítica na quinta (6), sexta (7) e terça-feira (11).

Bagaço da laranja
Executivos do segmento supermercadista acham que, no fim das contas, os chamados atacadões foram os únicos derrotados com a lei que obriga os estabelecimentos comerciais de Salvador a fornecerem de forma gratuita embalagens sustentáveis, aprovada pela Câmara de Vereadores na tarde de terça. Desde 12 de maio, estava proibida a distribuição de sacos plásticos não recicláveis pelos supermercados, que também ficaram liberados para vender sacolas feitas com material biodegradável ou ecologicamente corretas, fruto de proposta sancionada em 2023. Antes, as redes de atacado, ao contrário dos varejistas, já não forneciam embalagens plásticas grátis há tempos e ainda cobravam sem travas por cada elas. Agora, serão forçadas a arcar com um custo que jamais tiveram.

Prova de DNA
Criticada pela comunidade acadêmica da Ufba, a promessa do presidente Lula de instalar em Jequié outro campus da universidade federal, anunciada na segunda-feira (10) dentro do novo pacote de investimentos do PAC 3, foi atribuída a interesses pessoais do ministro Rui Costa. Sobram pistas que reforçam as suspeitas. Espanar a oposição do poder em Jequié, terra natal e trincheira política da ex-primeira-dama da Bahia Aline Peixoto, sempre foi questão de honra para Rui. Ao mesmo tempo, empurrar uma decisão goela abaixo sem ouvir o contraditório ou discutir antes com setores afetados é considerado método usual do chefe da Casa Civil do Palácio do Planalto.

Linha indireta
Presidente do PDT na Bahia, o deputado federal Félix Mendonça Júnior postou uma imagem terça-feira à noite em seu perfil no Instagram que soou como recado cifrado para o vereador Kiki Bispo (União Brasil), líder do prefeito Bruno Reis na Câmara Municipal. Ao lado do vereador pedetista Anderson Ninho, disparou: “Não se preocupe, amigo, porque ninguém derruba quem tem tanto serviço prestado na cidade. Continue firme na luta, deixe os invejosos para trás e tenha certeza de que a família 12 está ao seu lado”. Um dia antes, Ninho e Kiki por pouco não se atracam fisicamente no meio do plenário da Casa, por acusações de que um quer invadir o território do outro nos bairros de Dom Avelar e Castelo Branco.

Nascidos para morrer I
Quadros do alto escalão do Executivo estadual garantem que não existe a menor chance de vida para dois polêmicos projetos de lei encaminhados à Mesa Diretora da Alba nos últimos dias. O primeiro, de autoria do deputado Marcinho Oliveira (União Brasil), assegura o acesso de pacientes do SUS no estado ao Ozempic e ao Mounjaro, medicamentos originalmente desenvolvidos para tratar diabetes, mas que se tornaram queridinhas de pessoas interessadas em reverter a obesidade em curtíssimo prazo. O outro, de Nelson Leal (PP), institui a isenção de pedágio para motocicletas, bicicletas elétricas e similares nas rodovias estaduais.

Nascidos para morrer II
Conforme avaliação de consultores jurídicos do governo, ambos esbarram em dispositivos constitucionais que impedem o Legislativo de criar despesas adicionais aos cofres públicos ou ao caixa de empresas com contrato de concessão firmado junto ao estado sem aval do Executivo. Mesmo que passem pela Comissão de Constituição e Justiça da Alba e depois pelo plenário da Casa, o veto de Jerônimo é tido como fato consumado.