Em despedida de Neguinho, Beija-Flor vence 15° carnaval do Rio de Janeiro

A escola de samba Beija-Flor se sagrou campeã do carnaval carioca deste ano.

A Beija-Flor de Nilópolis é a campeã do carnaval 2025 no Rio de Janeiro! A Deusa da Passarela chegou ao seu 15º título com uma homenagem a Laíla (1943-2021), lendário diretor de carnaval e responsável pela maioria dos campeonatos da escola.

Em seu último ano como intérprete, Neguinho da Beija-Flor emocionou o público — e cantou a pedra de que voltaria no Sábado das Campeãs. Profetizou: vai encerrar o cortejo do dia 8 como o grande vencedor.

A nilopolitana “gabaritou” 7 dos 9 quesitos. Tirou um 9.9 em Alegorias e Adereços e outro 9.9 em Harmonia — essas notas acabaram descartadas, e a escola encerrou a totalização com 270 pontos, o máximo possível

A Azul e Branca avançou mais um degrau entre os maiores campeões. Portela tem 22 vitórias; Mangueira, 20; e Beija-Flor, agora, 15. O último título tinha sido em 2018 — e teve o dedo de Laíla.

Como veio a Beija-Flor

A Azul e Branca da Baixada Fluminense fez o 2º desfile da Segunda-Feira de Carnaval (3) e apresentou o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas”, desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo.

Técnica e vibrante, a escola reviveu a era do “rolo compressor nilopolitano”, capitaneada justamente por Laíla, em uma apresentação coesa e impactante.

O conjunto visual foi fiel à identidade da Beija-Flor, enquanto o samba-enredo, interpretado por Neguinho da Beija-Flor em sua despedida oficial, teve forte conexão com o público. O enredo, bem estruturado, exaltou a genialidade e o legado do homenageado.

A comissão de frente representou Laíla em um terreiro sagrado, unindo elementos espirituais e cênicos de grande efeito.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, brilhou com figurinos que remetiam à espiritualidade e ao destino.

As alegorias impressionaram pelo acabamento impecável e uso de iluminação para reforçar a dramaticidade. Destaques para a escultura de Laíla e o carro de Xangô, além do encerramento emocionante com um Cristo negro, remetendo ao icônico desfile de 1989. A única falha foi na última alegoria, cuja faixa “Do Orun, olhai por nós” não pôde ser lida completamente.

O conjunto de fantasias resgatou o luxo característico da escola sem comprometer a evolução dos componentes. A bateria Soberana inovou com bossas e paradões, sustentando o canto potente da comunidade, que atravessou a Avenida com garra e entrega.

Aposentadoria

Os deuses da folia conspiraram para que sua aposentadoria acontecesse em numa ocasião especial: saudar e eternizar o ex-diretor de carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, que morreu vítima da Covid-19 em 2021 e foi o enredo da Beija-Flor este ano.

Os caminhos de Laila e Neguinho se cruzaram antes mesmo da chegada do intérprete em Nilópolis. Nos primeiros anos de juventude, o cantor se dividia entre as rodas de samba e o quartel em que servia à Aeronáutica. Por intermédios de amigos em comum, eles se conheceram durante um evento do Bola Preta e depois se reencontraram em Nilópolis onde mantiveram uma parceria vitoriosa. Pela voz de Neguinho passaram sambras consagrados, como Ratos e Urubus e todos os 14 campeonatos da Deusa da Passarela.

Neguinho não foi vitorioso na escola apenas com sua voz. Em 1976, seu segundo ano na agremiação de Nilópolis, ele escreveu um samba para o enredo que homenageava o jogo do bicho. E foi Laila que convenceu Joãozinho Trinta a escolher a música que ficou eternizada na pelo “Sonhar com Rei dá leão”, em 197, primeiro título daquele tricampeonato da Beija-Flor.

Aos 75 anos e sob pedidos para não deixar o carnaval, Neguinho decidiu procurar uma psicóloga para lidar melhor com momento da aposentadoria. Um exemplo para seus fãs de que cuidar da saúde mental é necessário até para os ídolos consagrados. O encerramento da carreira na Sapucaí não é um ponto final em seus trabalhos. Ele agora se dedicará a sua carreira solo e já deve lançar um novo disco com Xande de Pilares, seu 42º da carreira.

Se o fechamento do portão da Sapucaí colocou fim à carreira de interprete, ele garante que não ficará fora do carnaval. Desfiles, ele garante que só participará de sua escola de coração, mas que a partir de agora sua agenda está aberta para shows carnaval. Nos próximos meses ele também participará da escolha da nova voz da Beija-Flor, que ainda é uma incógnita. Neguinho preparava seu amigo Bakaninha para assumir seu posto, mas ele morreu após um trágico acidente de carro em 2022 aos 31 anos. Agora, sem um sucessor encaminhado, a decisão será feita em um reality show do Globoplay este ano.

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