Além do temor de que o dono do ferro-velho faça algo contra as famílias, sentimento compartilhado pelos parentes é a esperança de encontrar os restos mortais dos jovens
Nesta quarta-feira, 4 de dezembro, completa-se um mês do desaparecimento dos jovens Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, de 24 anos, e Matusalém Silva Muniz, de 25, funcionários de um ferro-velho em Campinas de Pirajá, em Salvador. Apontado pela família dos rapazes como responsável pelo sumiço, o dono do estabelecimento, Marcelo Batista, segue foragido.
Esposa de Paulo Daniel, Kaylane Santos falou ao Aratu On sobre o ‘pesadelo’ que a família do rapaz tem enfrentado. “Esses 30 dias, para a gente, tem sido um pesadelo. Tem sido triste, desesperador, porque são 30 dias sem respostas, que a gente corre atrás e a ficha ainda não caiu porque parece que foi ontem, tem passado muito rápido”, afirmou.
Diante da demora em se obter informações de Paulo e Matusalém ou mesmo encontrar o principal suspeito do crime, Marcelo Batista, Kaylane contou, de maneira emocionada, que teme pela própria vida e dos demais familiares.
“É um mês de choro, um mês sem comer, entendeu? Sem dormir, sem ter paz, porque a qualquer momento esse homem pode vir na minha família e, se acontecer algo comigo e minha família, terá sido ele. Porque ele não vale nada, como os funcionários dele falaram, ele é extremamente perigoso, então o que resta é o medo”.
O Aratu On listou os principais acontecimentos do caso nesses últimos 30 dias. Confira:
Sumiço e buscas
Paulo Daniel e Matusalém foram vistos pela última vez no dia 4 de novembro, flagrados por câmeras de segurança do ferro-velho em que trabalhavam, no bairro de Campinas de Pirajá, em Salvador. A família de Paulo afirmou que ele chegou a trabalhar normalmente antes de desaparecer, enquanto Matusalém sumiu após sair para almoçar.
Segundo apuração do programa Alô Juca, da TV Aratu, as vítimas teriam sido amarradas e torturadas com pauladas antes de serem mortas.
À ocasião, Marineide Pereira, mãe de Paulo, contou que, dias antes do desaparecimento, o filho havia sido acusado pelo dono da empresa de roubar um gerador do local, mas não houve registro na Polícia. Na entrevista ao Aratu On, Kaylane afirmou que não acredita que o companheiro tenha roubado nada.
“Dizem que ele [Paulo] roubou, mas ele não roubou nada até que se prove o contrário. Ele não fez nada e, se ele tivesse roubado, ele [Marcelo Batista] tinha obrigação de chegar na delegacia. Ele não tinha obrigação de tirar a vida de ninguém, porque o único que tem poder de tirar a vida é Deus”.
No dia seguinte ao desaparecimento (5 de novembro), o Corpo de Bombeiros iniciou as buscas pelos rapazes. Foram usados cães farejadores no terreno do ferro-velho, confirmando que Paulo e Matusalém estiveram no local. Uma meia e um tênis de Paulo também foram encontrados.
Marcelo Batista
Elemento importante da história, o dono do ferro-velho, Marcelo Batista, parou de frequentar o local depois que a história ganhou força nos noticiários. No dia 6 de novembro, dois dias após o desaparecimento, a defesa dele entrou com um pedido de habeas corpus preventivo, para evitar que ele fosse preso – o pedido foi negado pela 10ª Vara Criminal da Comarca de Salvador.
No dia 8 de novembro, ele entrou em contato com o Programa Alô Juca, da TV Aratu. Na ocasião, via mensagem, Marcelo Batista, que é ex-policial, falou que não havia feito nada e que não tinha culpa.
Perguntada sobre o que diria para Marcelo caso estivesse frente a frente com o suspeito de ser responsável pelo sumiço de Paulo Daniel e Matusalém Silva, Kaylane disse: “Eu olharia bem no fundo do olho dele e perguntaria porque ele tirou a vida do meu marido, por que ele fez isso? Meu marido não devia nada a ele, era trabalhador. Eu perguntaria: ‘que frieza é essa?'”
Testemunhas afirmaram que outro ex-funcionário, conhecido como Adson Davi do Carmo, e sua companheira, Priscila Cruz, foram mortos a mando de Marcelo. A data do crime não foi informada. Assim como Paulo e Matusalém, Adson foi acusado de roubo pelo empresário. As investigações iniciais indicam que, antes de ser morto, ele foi interrogado sobre o suposto furto de metais e, depois, assassinado por policiais.
Ainda na madrugada do dia 8, o carro de Marcelo, que estava estacionado no terreno do ferro-velho, foi incendiado. No dia 11, a prisão de Marcelo Batista foi decretada e, desde então, ele é tratado como foragido.
No dia 15 de novembro, uma ex-funcionária do ferro-velho, que preferiu não ser identificada, denunciou situações de maus tratos, assédios, abusos e ameaças sofridas durante os dois anos em que trabalhou no estabelecimento. O caso foi ao ar durante o programa Alô Juca.
Outro veículo de Marcelo foi encontrado na loja Globaltek, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ele foi deixado no estabelecimento por um homem que solicitou a troca dos bancos, alegando que o carro apresentava manchas de sujeira. No entanto, a polícia suspeita que essas manchas possam ser vestígios de sangue dos jovens desaparecidos.
Após a localização do veículo, a polícia realizou uma perícia detalhada ao longo do dia 12 e, posteriormente, guinchou o carro para o pátio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro de Itapuã, em Salvador. Amostras do material encontrado no carro foram coletadas e serão analisadas para verificar a origem.
No final de novembro, testemunhas relataram que havia movimentação no ferro-velho durante as madrugadas e que o estabelecimento já havia retomado o funcionamento. Com Marcelo foragido, familiares de Paulo Daniel e Matusalém fizeram um protesto em frente ao ferro-velho, no dia 13 de novembro, contra o funcionamento do galpão.
Investigações
O Aratu On entrou em contato com a Polícia Civil para averiguar o andamento das investigações. Em nota, a PC informou que “a investigação está em curso e os desdobramentos não estão sendo divulgados para não interferir no andamento do caso.”
Família de Paulo Daniel
Com o sentimento de injustiça presente todos os dias, desde 4 de novembro, e com a sensação de que a família está ‘completamente destruída’, Kaylane conta que não há clima algum para as festas de Natal e Ano Novo. Ela diz ainda que “falar de Paulo Daniel é doloroso porque é muita saudade. Entrar dentro de casa e não ver meu marido, não ouço mais a voz dele. Eu tenho esperança dele bater na porta e falar para mim que o pesadelo acabou, que ele tá bem. Mas eu sei que isso não vai acontecer e é desesperador. Você saber que você não vai ver mais aquela pessoa”.
A única coisa que Kaylane, dona Marineide, que é a mãe de Paulo, e os demais parentes querem neste final de ano é a possibilidade de encontrar os restos do jovem de 24 anos, para que, ao menos, ‘um enterro digno’.
“O maior presente, nesse momento, seria achar o corpo dele, seria dar um enterro digno. Apesar que já tem um mês e provavelmente não tem quase mais nada [de restos mortais], não importa. O importante é que a gente tenha esse momento, para que ele descanse sabendo que ele teve uma mulher e uma mãe que lutaram por ele a vida toda”.