Moradores questionam o impacto causado pelas festas no Santo Antônio Além do Carmo
O Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, é um bairro boêmio, cheio de histórias, música e cultura, com ruas estreitas, casas geminadas e estruturas antigas e tombadas. Assim é definido pelos moradores e comerciantes. No entanto, quem vive na região tem perdido o sono com o desenvolvimento recente do bairro.
O aumento na movimentação de turistas e soteropolitanos, junto à realização de festas para atrair ainda mais público, tem gerado desconforto. Segundo os moradores, eventos de médio e grande porte, sem fiscalização adequada e planejamento, têm afetado a rotina local.
Os problemas incluem o excesso de decibéis, que prejudicam as estruturas antigas, a mobilidade limitada devido ao número de pessoas, a falta de estacionamentos suficientes e a sujeira deixada após os eventos.
Em entrevista ao BNews, a presidente da Associação de Moradores do bairro, Carolina Zanetti, relatou que muitos moradores estão deixando o local, com a poluição sonora sendo a principal justificativa. “Na hora do descanso dos moradores, é a hora que as pessoas chegam no bairro para shows, bares, restaurantes. O que tem, consequentemente, gerado desconfortos e desdobramentos importantes para a saúde mental (estresse, irritabilidade, interferência no sono, etc)”, afirmou Carolina.
“Idosos, trabalhadores, crianças pequenas, todos expostos a eventos com som altíssimos e grandes aglomerações. Não se pode aqui dormir na hora que queremos, conversar, assistir TV”, acrescentou.
A preocupação dos moradores cresce com a divulgação do festival Som do Sabor, que acontecerá entre os dias 10 e 12 de janeiro. O evento, gratuito e aberto ao público, levanta críticas devido à falta de infraestrutura no bairro para suportar grandes eventos. “O bairro não comporta, não tem estrutura. Um evento com uma banda como Attooxxa, em um espaço aberto, onde não se pode controlar a quantidade de pessoas, sem infraestrutura nenhuma, não pode virar algo rotineiro”, afirmou a presidente da associação.
O empreendedor e morador do bairro, José Yglesias Garcia, destacou que, embora esses eventos movimentem a economia local, os organizadores precisam considerar os limites da área tombada. “As vibrações causadas pelo excesso de decibéis afetam a integridade estrutural dos edifícios. Além disso, a infraestrutura precária, como a falta de banheiros públicos suficientes, acessibilidade inadequada e estacionamentos seguros, cria desconforto para visitantes e moradores, além de agravar os problemas com resíduos e desordem urbana”, relatou Yglesias.
Os moradores, por meio da associação, afirmam não serem contra as festas, mas sim a favor de um regramento que respeite o caráter residencial e histórico do bairro. “Não somos contra festas, eventos, bares, porque isso sempre houve aqui. Mas queremos um regramento que seja coerente com um bairro residencial e histórico.”
O empresário acredita que é possível equilibrar a movimentação econômica e o respeito ao bairro com eventos de menor porte, que preservem a autenticidade do local. “Investir em eventos de pequeno porte, com foco em experiências autênticas, arte, música e gastronomia, seria uma alternativa mais harmônica e sustentável”, destacou.
Ele também ressaltou a importância da atuação do IPHAN, o órgão responsável pela proteção do patrimônio cultural, para fiscalizar e limitar os eventos. “A proteção do patrimônio deve vir acompanhada de investimentos em infraestrutura e serviços que valorizem o local e beneficiem todos os envolvidos, sem comprometer sua essência histórica e cultural”, finalizou.