Prédio histórico de Salvador, Sulacap sofre com alagamentos, fissuras e é notificado em meio à falta de investimentos

Erguido em 1942, o Edifício Sulacap, localizado na Avenida Sete de Setembro, no Centro de Salvador, deveria passar por uma série de reformas no telhado em 2024 devido à falta de manutenção e alagamentos que poderiam comprometer sua estrutura.

No entanto, as obras não saíram do papel, manchando a trajetória de um dos marcos da capital baiana.

Devido a isso, na última segunda-feira (9), o edifício — que possui sete andares, 121 salas e quatro lojas — foi notificado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) “em função de infiltração existente na unidade”.

O órgão informou ao BNews que constatou a existência de uma infiltração proveniente de pavimentos superiores (telhado, terraço e claraboia), podendo também ser ocasionado por falhas existentes na estrutura da fachada.

A Codesal também constatou fissuras na fachada do prédio considerado o principal representante da arquitetura Arte Déco em Salvador, de acordo com o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). O caso já foi encaminhado à Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) para fiscalização da manutenção predial recomendada à gestão do Sulacap.

 

A edificação, de modo geral, apresenta fissuras no piso da cobertura, processo de corrosão das armaduras em elementos estruturais e risco de desprendimento de elementos da fachada. A Codesal notificou a administração do condomínio a realizar a manutenção predial com o acompanhamento de profissional habilitado pelo CREA/CAU”, informou a Defesa Civil de Salvador.

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Imagens da claraboia do Sulacap e sua estrutura metálica comprometida

Em seus mais de 80 anos de existência, o edifício jamais passou por uma reforma completa no telhado, recebendo apenas manutenções periódicas. Essas intervenções já haviam sido recomendadas pelo Ipac após uma vistoria ocorrida em 2021. Na oportunidade, o órgão destacou que os maiores problemas estão relacionados à falta de estanqueidade — sistema de de impermeabilização bem projetado — da cobertura.

Além disso, também foram recomendadas a recomposição das paredesrecuperação das esquadriasda fachada e dos pisos; além da recomposição da pintura e revestimento das paredes e da fiação aparente nas áreas comuns.

Dessa maneira, a partir do diagnóstico, deverá ser feita a substituição do madeiramento comprometido, realizando limpeza e imunização de todas as peças. As telhas devem ser analisadas para saber se é possível a reutilização, caso não seja recomenda-se o uso de telha cerâmica do mesmo estilo. Deve ser feita uma averiguação quanto a resistência da estrutura metálica que sustenta a claraboia e a necessidade de substituição das peças danificadas”, dizia a nota técnica do Ipac.

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Telhado do Sulacap | Foto: Joilson César/BNews

 

Falta de verbas

Ao BNews, a gestão condominial do Sulacap argumenta que não há verbas para fazer as intervenções no momento. A expectativa da administração é que, após a conclusão do processo de tombamento, seja feito um investimento do Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura (Secult-BA), na revitalização da estrutura do prédio como um todo — e prioritariamente do telhado (veja mais abaixo).

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Paredes do terraço do Sulacap

De acordo com o atual síndico do Sulacap, Adson Improta, dois orçamentos para as correções no telhado chegaram a ser elaborados. A ideia inicial era que três orçamentos para recuperação fossem confeccionados. Depois disso, os valores seriam sinalizados aos condôminos — o que não aconteceu.

Após os proprietários tomarem ciência das cifras, seria realizada uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), em maio, para bater o martelo sobre o início da reforma. No entanto, as obras não saíram do papel porque, de acordo com a gestão do condomínio, os tempos inconstantes de Salvador fizeram com que os planos fossem adiados para um período menos chuvoso.

De acordo com Adson Improta, um dos orçamentos chegou ao valor de R$ 58 mil — contando apenas com a mão de obra. Já o segundo, com o material incluso, ficaria em cerca de R$ 150 mil. Ele explicou que os valores são inviáveis dado ao fato de que o fluxo de caixa do Sulacap é de apenas R$ 35 mil e tem sido comprometido devido à alta inadimplência.

Todas as pessoas que procuramos disseram que o trabalho precisa ser feito no verão, que é quando ocorre menos chuva […] Essa questão do telhado, a gente deixou justamente para dezembro porque seria o período hábil para fazer o serviço. Não dá para eu fechar com uma empresa e seis meses depois mudar o preço. Devo terminar minha gestão sem ver concluído, em março, porque o processo é feito por etapas. Minha ideia é iniciar as obras e deixar encaminhadas”, explicou.

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Infiltrações no sexto andar do Sulacap

Adson revelou que existe um processo judicial com o dono do sétimo andar do edifício. O proprietário que alega que os problemas referentes ao terraço estão afetando diretamente suas salasA ação teve início em 2018 e, desde então, segue parada na justiça.

Uma perícia foi realizada e um laudo já foi emitido e anexado ao processo judicial. Inclusive, os alagamentos ocorridos no sétimo andar têm gerado infiltrações no sexto andar do Sulacap, de acordo com o que uma fonte informou ao BNews.

Investimento do Governo da Bahia

De acordo com a gestão condominial, além das questões relacionadas à reforma do Sulacap, existiam planos para que fossem inauguradas, no terraço, uma cafeteria e uma galeria de arte no final de 2022 — seria a pioneira do Brasil em relação à Arte Déco. Vale lembrar que o Sulacap fica dentro do circuito Osmar, no Campo Grande, do Carnaval de Salvador, e viu de perto o desfile de blocos e encontros de trios que marcaram a folia baiana.

Contudo, as obras da cafeteria e uma galeria de arte também não saíram do papel por falta de verbas. A expectativa da gestão de Sulacap é que as ações sejam destravadas após o tombamento, que, de acordo com o que o Ipac informou ao BNews, encontra-se sob tutela provisória desde a abertura do procedimento, em 28 de agosto de 2008.

Esta medida tem como objetivo garantir a proteção e preservação do bem enquanto a decisão não for concluída. Atualmente, o processo está em fase final de análise, mas o Edifício segue preservado de possíveis intervenções que possam comprometer sua integridade”, afirmou.

BNews também questionou o Ipac sobre a possibilidade do empenho de recursos para a restauração do empreendimento, além de ações voltadas à cultura. O Instituto afirmou que o tombamento não altera a propriedade do bem, permanecendo sob responsabilidade do proprietário a sua manutenção e conservação.

No entanto, qualquer intervenção, como reformas ou restaurações, deve ser previamente aprovada pelo IPAC. Essa medida é fundamental para evitar danos ao bem e assegurar que suas características históricas e culturais sejam preservadas”, informou o Ipac por meio de nota.

O Instituto ainda destacou que segue acompanhando o processo de tombamento com atenção, “trabalhando de forma conjunta com todas as partes envolvidas e buscando soluções que respeitem a integridade do patrimônio e atendam às demandas atuais de conservação e uso”.

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