Em média, cada um dos 63 parlamentares recebeu meio milhão de reais para custear aluguel de veículos, serviços de divulgação, hospedagem, consultorias e até avião fretado, entre outros, aponta levantamento
Imagine receber um salário mensal de R$ 33 mil, possuir mais de 10 assessores sem remunerá-los do próprio bolso, não precisar prestar contas sobre produtividade ou desempenho, ganhar dois longos recessos anuais, aparecer quando quiser ao trabalho e ainda ter mordomias de todo tipo bancadas pelo contribuinte. Essa é a doce vida dos deputados estaduais da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Levantamento feito pela Metropolítica junto à página de transparência da Alba mostra que os 63 parlamentares da Casa gastaram desde janeiro deste ano nada menos que R$ 31,5 milhões com a chamada verba indenizatória, repassada para cobrir somente despesas com o exercício do mandato. Basicamente, locação de veículos, hospedagem, pesquisas, consultorias, trabalhos técnicos, assessorias, passagens de avião, táxi aéreo, aluguel de escritório político, assinatura de TV a cabo e divulgação da atividade parlamentar. Em média, o montante corresponde a gastos de meio milhão de reais por cada deputado do início de 2024 para cá.
Fila da gastança
No ranking dos grandes consumidores de verbas indenizatórias da Alba, o deputado Felipe Duarte (PP) ocupa o primeiro lugar, com gastos totais de aproximadamente R$ 545 mil, seguido de perto por Marcelinho Veiga (União Brasil), com R$ 539 mil. Seis parlamentares aparecem empatados na terceira colocação, com despesas de R$ 537 mil: Soane Galvão (PSB), Diego Castro (PL), Luciano Araújo (Solidariedade), Eures Ribeiro (PSD), Leandro de Jesus (PL) e Angelo Coronel Filho Filho (PSD). Logo abaixo, vem Alex da Piatã (PSD), cujas despesas somaram R$ 536 mil. Outros três estão embolados na quinta posição, com R$ 530 mil. São eles Bobô (PCdoB), Emerson Penalva (PDT) e Marcinho Oliveira (União Brasil). Da lista, apenas Bobô e Eures são veteranos. Os demais são deputados de primeira viagem.
Segunda fila
A faixa de gastos que vai dos R$ 500 mil aos R$ 529 mil é a mais numerosa, com 30 parlamentares. Apenas do União Brasil, há sete deputados estaduais: Júnior Nascimento, Kátia Oliveira, Luciano Simões Filho, Manuel Rocha, Pedro Tavares. Sandro Régis e Alan Sanches, líder da bancada da oposição. Do PV, mais quatro: Ludmilla Fiscina, Marquinho Viana, Roberto Carlos e Vítor Bonfim. O PT também aparece com quatro representantes: Junior Muniz, Euclides Fernandes, Fátima Nunes e Rosemberg Pinto, líder da base aliada na Alba. Completam a lista Nelson leal e Hassan (PP), Ricardo Rodrigues e Ivana Bastos (PSD), Zé e Fabrício Falcão (PCdoB), Laerte do Vando (Podemos), Matheus Ferreira (MDB), Pablo Roberto (PSDB), Patrick Lopes (Avante), Raimundinho da JR (PL), José de Arimateia (Republicanos), Fabíola Mansur (PSB) e Binho Galinha (PRD), investigado pela Polícia Federal por suspeita de comandar uma milícia especializada em extorsão, agiotagem, receptação de carga roubada e lavagem de dinheiro do jogo do bicho.
Menos é muito
Quase todos os demais deputados receberam de R$ 400 mil a R$ 499 mil este ano para custear, em tese, despesas com o mandato. Há apenas duas exceções abaixo dessa faixa: Neusa Cadore e Marcelino Galo, ambos do PT. Entretanto, embora os dois tenham usado, respectivamente, R$ 395,6 mil e R$ 262 mil, tanto Galo quanto Neusa Cadore só retornaram à Alba em março deste ano. Ela como herdeira da vaga do ex-deputado Paulo Rangel, nomeado à época conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), e ele como primeiro suplente na vaga do deputado licenciado Osni Cardoso, atual secretário de Desenvolvimento Rural do Estado. Ao mesmo tempo, Neusa Cadore assumiu no fim de julho o comando da Secretaria de Políticas para Mulheres no governo Jerônimo Rodrigues. Os valores obtidos durante o levantamento da Metrópole tendem a ser ainda maiores, já que não inclui as despesas lançadas entre esta segunda-feira (09) e 31 de dezembro.
Propaganda pessoal
Por tipo de gasto, a maior soma, cerca de R$ 15 milhões, é relativa à divulgação da atividade parlamentar em 2024. O valor é praticamente a metade do montante dispensado aos deputados da Alba a título de verba indenizatória e inclui despesas com impressão de informativos gráficos sobre o mandato, execução de serviços para redes sociais, contratação de profissionais especializados em comunicação, além de repasses para blogs e portais da capital e interior. Da relação dos cinco parlamentares que mais efetuaram pagamentos para divulgar o próprio nome, Zó lidera, com custos ressarcidos de R$ 400 mil, de acordo com a página de transparência da Assembleia. Na sequência, vêm Roberto Carlos (R$ 388 mil), Binho Galinha (R$ 380 mil), o tucano Cafu Rodrigues (R$ 378 mil) e José de Arimateia (R$ 371 mil).
Parece piada, mas não é
O levantamento mostra situações que beiram o escárnio com o uso de dinheiro público para bancar mordomias para os deputados baianos. É o caso de Vítor Azevedo (PL), que gastou R$ 24,3 mil para fretar um táxi aéreo da Abaeté no dia 19 de abril, em pleno feriadão da Semana Santa. Segundo a descrição incluída na nota fiscal apresentada pelo parlamentar, o pagamento se refere a um voo que saiu de Porto Seguro para Salvador na Sexta-Feira Paixão. O mais curioso é que há ligação aérea direta ou com escalas entre o principal destino turístico do litoral sul do estado e a capital baiana. Apesar de caras, as passagens em companhias aéreas que operam o destino certamente sairiam bem mais em conta do que o jato da Abaeté. Salvo, é claro, se ele viajou acompanhado, informação que não consta na nota emitida pela empresa, apresentada por ele à Diretoria Financeira da Alba e lançada na página de transparência.